A noite não é simplesmente um negrume sem margens nem direções.
Ela tem sua claridade, seus caminhos, suas escadas, seus andaimes.
A grande construção da noite sobe das submarinas planícies
aos longos céus estrelados
em trapézios, pontes, vertiginosos parapeitos,
para obscuras contemplações e expectativas.
Então, a noite levava-me... – por altas casas, por súbitas ruas,
e sob cortinas fechadas estavam cabeças adormecidas,
e sob luzes pálidas havia mãos em morte,
e havia corpos abraçados, e imensos desejos diversos,
duvidas, paixões, despedidas
- mas tudo desprendido e fluido,
suspenso entre objetos e circunstancias,
com destrezas de arco-íris e aço.
E os jogadores de xadrez avançavam cavalos e torres,
na extremidade da noite, entre cemitérios e campos...
- mas tudo involuntário e tênue –
enquanto as flores se modelavam e, na mesma obediência,
os rebanhos formavam leite, lã,
eternamente leite, lã, mugido imenso...
Enquanto os caramujos rodavam no torno vagaroso das ondas
e a folha amarela se desprendia, terminada: ar, suspiro, solidão.
A noite levava-me, às vezes, voando pelos muros do nevoeiro,
outras vezes, boiando pelos frios canais, com seus calados barcos
ou pisando a frágil turfa ou o lodo amargo.
E belas vozes ainda acordadas iam cantando casualmente.
E jovens lábios arriscavam perguntas sobre dolorosos assuntos.
Também os cães passavam com sua sombra, lúcidos e pensativos.
E figuras sem realidade extraviadas de domicílios,
atravessadas pela noite, pela hora, pela sorte,
flutuavam com saudade, esperando impossíveis encontros,
em que países, meu Deus, em que paises além da terra,
ou da imaginação?
A noite levava-me tão alto
que os desenhos do mundo se inutilizavam.
Regressavam as coisas à sua infância e ainda mais longe,
devolvidas a uma pureza total, a uma excelsa clarividência.
E tudo queria ser novamente. Não o que era, nem o que fora
- o que devia ser, na ordem da vida imaculada.
E tudo talvez não pensasse: porém docemente sofria.
Abraçava-me à noite e pedia-lhe outros sinais, outras ceretzas:
a noite fala em mil linguagens, promiscuamente.
E passava-se pelo mar, em sua profunda sepultura.
E um grande pasmo de lagrimas preparava palavras e sonhos,
essas vastas nuvens que os homens buscam...
Ela tem sua claridade, seus caminhos, suas escadas, seus andaimes.
A grande construção da noite sobe das submarinas planícies
aos longos céus estrelados
em trapézios, pontes, vertiginosos parapeitos,
para obscuras contemplações e expectativas.
Então, a noite levava-me... – por altas casas, por súbitas ruas,
e sob cortinas fechadas estavam cabeças adormecidas,
e sob luzes pálidas havia mãos em morte,
e havia corpos abraçados, e imensos desejos diversos,
duvidas, paixões, despedidas
- mas tudo desprendido e fluido,
suspenso entre objetos e circunstancias,
com destrezas de arco-íris e aço.
E os jogadores de xadrez avançavam cavalos e torres,
na extremidade da noite, entre cemitérios e campos...
- mas tudo involuntário e tênue –
enquanto as flores se modelavam e, na mesma obediência,
os rebanhos formavam leite, lã,
eternamente leite, lã, mugido imenso...
Enquanto os caramujos rodavam no torno vagaroso das ondas
e a folha amarela se desprendia, terminada: ar, suspiro, solidão.
A noite levava-me, às vezes, voando pelos muros do nevoeiro,
outras vezes, boiando pelos frios canais, com seus calados barcos
ou pisando a frágil turfa ou o lodo amargo.
E belas vozes ainda acordadas iam cantando casualmente.
E jovens lábios arriscavam perguntas sobre dolorosos assuntos.
Também os cães passavam com sua sombra, lúcidos e pensativos.
E figuras sem realidade extraviadas de domicílios,
atravessadas pela noite, pela hora, pela sorte,
flutuavam com saudade, esperando impossíveis encontros,
em que países, meu Deus, em que paises além da terra,
ou da imaginação?
A noite levava-me tão alto
que os desenhos do mundo se inutilizavam.
Regressavam as coisas à sua infância e ainda mais longe,
devolvidas a uma pureza total, a uma excelsa clarividência.
E tudo queria ser novamente. Não o que era, nem o que fora
- o que devia ser, na ordem da vida imaculada.
E tudo talvez não pensasse: porém docemente sofria.
Abraçava-me à noite e pedia-lhe outros sinais, outras ceretzas:
a noite fala em mil linguagens, promiscuamente.
E passava-se pelo mar, em sua profunda sepultura.
E um grande pasmo de lagrimas preparava palavras e sonhos,
essas vastas nuvens que os homens buscam...
Cecília Meireles
Na lua uma flor na noite-flor da noite lua.
ResponderEliminarO que me acometeu?
estou fraco em espasmos...
você soa poesia...
você é um poema do absurdo des-
ta noite do absurdo transcendente.
e noite aqui na vela acesa
ascende fumaça. Neblina pro grafi-
te dançante na noite da folha, a noi-
te da folha contagia ágil na noite do aqui.
Noite, a
noite
Uma flor noite no mar morto
pesado sepultado encaminhado da mor-
te surda. No xadrez, noite, na encruzilhada, noite, galinhas vinho, noite, um dente branco, noite, brilha linha-a-linha no desenho, noite, contornado de um riso, brilha, noite.
Flor a música absurda
catacumba cadaverica
barulho negro
som noite
profunda
pesada
surda
muda
e flor é noite é flor e
na pupila pálida a sombra
os cílios os de-
talhes
da noite que se escreve escorrega se tece
OOooh a noite, longa noite
E meus contornos
contorcem quanto
santo espectro
penumbra
e a
a
o
v
é
n
Noite Indígena Solitária
Árida, Ar Ferida
Noite Indígena
Noite Na Terra
Sobre O Solo Seco Areado
Noite Vento Barracas
Vento O Fogo
Vento Chuva
Noite que expande Negrura
Para adiante distante
Mas mesmo Negrura racha com uma rachadura
que é clara não escura.
Clara clareava Um
Relâmpago
Noite Doente por
Dormente
espuma bolhas
vapor
Branco banheira Lua Cheia