Trasladar al plano de la creación la fervorosa voluptuosidad con que, durante nuestra infancia, rompimos a pedradas todos los faroles del vecindario. O. G.

¿cómo nombrar con esa boca,
cómo nombrar en este mundo con esta sola boca en este mundo con esta sola boca?
Olga Orozco


poetomancia de sábado, reminiscente el domingo


A noite não é simplesmente um negrume sem margens nem direções.
Ela tem sua claridade, seus caminhos, suas escadas, seus andaimes.

A grande construção da noite sobe das submarinas planícies

aos longos céus estrelados

em trapézios, pontes, vertiginosos parapeitos,

para obscuras contemplações e expectativas.



Então, a noite levava-me... – por altas casas, por súbitas ruas,

e sob cortinas fechadas estavam cabeças adormecidas,

e sob luzes pálidas havia mãos em morte,

e havia corpos abraçados, e imensos desejos diversos,

duvidas, paixões, despedidas

- mas tudo desprendido e fluido,

suspenso entre objetos e circunstancias,

com destrezas de arco-íris e aço.



E os jogadores de xadrez avançavam cavalos e torres,
na extremidade da noite, entre cemitérios e campos...

- mas tudo involuntário e tênue –

enquanto as flores se modelavam e, na mesma obediência,

os rebanhos formavam leite, lã,

eternamente leite, lã, mugido imenso...

Enquanto os caramujos rodavam no torno vagaroso das ondas

e a folha amarela se desprendia, terminada: ar, suspiro, solidão.



A noite levava-me, às vezes, voando pelos muros do nevoeiro,

outras vezes, boiando pelos frios canais, com seus calados barcos

ou pisando a frágil turfa ou o lodo amargo.



E belas vozes ainda acordadas iam cantando casualmente.

E jovens lábios arriscavam perguntas sobre dolorosos assuntos.

Também os cães passavam com sua sombra, lúcidos e pensativos.

E figuras sem realidade extraviadas de domicílios,

atravessadas pela noite, pela hora, pela sorte,

flutuavam com saudade, esperando impossíveis encontros,

em que países, meu Deus, em que paises além da terra,

ou da imaginação?



A noite levava-me tão alto

que os desenhos do mundo se inutilizavam.




Regressavam as coisas à sua infância e ainda mais longe,
devolvidas a uma pureza total, a uma excelsa clarividência.


E tudo queria ser novamente. Não o que era, nem o que fora
- o que devia ser, na ordem da vida imaculada.
E tudo talvez não pensasse: porém docemente sofria.


Abraçava-me à noite e pedia-lhe outros sinais, outras ceretzas:

a noite fala em mil linguagens, promiscuamente.


E passava-se pelo mar, em sua profunda sepultura.
E um grande pasmo de lagrimas preparava palavras e sonhos,

essas vastas nuvens que os homens buscam...


Cecília Meireles

1 comentario:

  1. Na lua uma flor na noite-flor da noite lua.

    O que me acometeu?
    estou fraco em espasmos...

    você soa poesia...
    você é um poema do absurdo des-
    ta noite do absurdo transcendente.

    e noite aqui na vela acesa
    ascende fumaça. Neblina pro grafi-
    te dançante na noite da folha, a noi-
    te da folha contagia ágil na noite do aqui.
    Noite, a
    noite

    Uma flor noite no mar morto
    pesado sepultado encaminhado da mor-
    te surda. No xadrez, noite, na encruzilhada, noite, galinhas vinho, noite, um dente branco, noite, brilha linha-a-linha no desenho, noite, contornado de um riso, brilha, noite.

    Flor a música absurda
    catacumba cadaverica
    barulho negro
    som noite
    profunda
    pesada
    surda
    muda

    e flor é noite é flor e
    na pupila pálida a sombra
    os cílios os de-
    talhes
    da noite que se escreve escorrega se tece
    OOooh a noite, longa noite

    E meus contornos
    contorcem quanto
    santo espectro
    penumbra
    e a
    a
    o
    v

    é
    n

    Noite Indígena Solitária
    Árida, Ar Ferida
    Noite Indígena
    Noite Na Terra
    Sobre O Solo Seco Areado
    Noite Vento Barracas
    Vento O Fogo
    Vento Chuva

    Noite que expande Negrura

    Para adiante distante

    Mas mesmo Negrura racha com uma rachadura
    que é clara não escura.
    Clara clareava Um
    Relâmpago


    Noite Doente por
    Dormente
    espuma bolhas
    vapor
    Branco banheira Lua Cheia

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si tienes vos, tienes palabras. dejalas caer